quinta-feira, 7 de maio de 2020

e. e. cummings (Estados Unidos: 1894 – 1962)



In Excelsis


Tu – tu –
Tua sombra é luz solar sobre uma lâmina prateada;
Teus passos, a sementeira de lírios;
Tuas mãos gesticulando, um ressoar de sinos pelo ar parado.
O movimento de tuas mãos é a longa, dourada corrida da luz de um sol nascente;
É o saltitar de pássaros sobre uma aleia ajardinada.
Como o perfume dos narcisos, surgiste ao amanhecer.
Potros não são mais repentinos que teus pensamentos,
Tuas palavras são abelhas ao redor de uma pereira,
Teus adornos são vespas de listras negro-douradas voejando entre maçãs vermelhas.
Eu bebo teus lábios,
Eu como a brancura de tuas mãos e de teus pés.
Minha boca está aberta,
À semelhança de um jarro novo estou vazio e aberto.
Como água branca és tu que completas a taça de minha boca,
Como um riacho de águas cobertas de lírios.
Tu és congelada como as nuvens,
Tu és distante e doce como nuvens altaneiras.
Ouso buscar por ti,
Ouso tocar a orla de tua luminosidade.
Salto para além dos ventos,
Choro e clamo,
Pois minha garganta é afiada como uma espada
amolada em afiador de marfim.
Minha garganta canta a alegria de meus olhos,
O impetuoso contentamento de meu amor.
Como pode o arco-iris cair sobre meu coração?
Como pude aprisionar os mares e guardá-los entre os dedos
E como pude capturar o céu para com ele cobrir a cabeça? Como pudeste vir morar comigo,
Circundando-me com os quatro anéis de tua mística leveza,
De tal modo que eu diga "Glória! Glória!" e incline-me diante de ti
Como se defronte a um santuário?
Devo atormentar-me sobre se o amanhecer é amanhecer e é já passado um dia?
Devo imaginar que o ar é condescendência,
A terra, uma cortesia,
O céu, uma benção que mereça agradecimentos?
Então a vós - ar - terra - céu -
Eu não vos agradeço,
Eu vos tomo,
Eu vivo.
E o que digo em consequência
São rubis encrustados num portal de pedra.


In Excelsis



You – you –
Your shadow is sunlight on a plate of silver;
Your footsteps, the seeding-place of lilies;
Your hands moving, a chime of bells across a windless air.
The movement of your hands is the long, golden running of light from a rising sun;
It is the hopping of birds upon a garden-path.
As the perfume of jonquils, you come forth in the morning.
Young horses are not more sudden than your thoughts,
Your words are bees about a pear-tree,
Your fancies are the gold-and-black striped wasps buzzing among red apples.
I drink your lips,
I eat the whiteness of your hands and feet.
My mouth is open,
As a new jar I am empty and open.
Like white water are you who fill the cup of my mouth,
Like a brook of water thronged with lilies.
You are frozen as the clouds,
You are far and sweet as the high clouds.
I dare to reach to you,
I dare to touch the rim of your brightness.
I leap beyond the winds,
I cry and shout,
For my throat is keen as is a sword
Sharpened on a hone of ivory.
My throat sings the joy of my eyes,
The rushing gladness of my love.
How has the rainbow fallen upon my heart?
How have I snared the seas to lie in my fingers
And caught the sky to be a cover for my head? How have you come to dwell with me,
Compassing me with the four circles of your mystic lightness,
So that I say "Glory! Glory!" and bow before you
As to a shrine?
Do I tease myself that morning is morning and a day after?
Do I think the air is a condescension,
The earth a politeness,
Heaven a boon deserving thanks?
So you – air – earth – heaven –
I do not thank you,
I take you,
I live.
And those things which I say in consequence
Are rubies mortised in a gate of stone.


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