sábado, 16 de maio de 2020

Jorge Luis Borges (Argentina: 1899 – 1986)



Soneto do Vinho


Em que reino, em que século, sob que silenciosa
Conjunção dos astros, em que secreto dia
Que o mármore não salvou, surgiu a valorosa
E singular ideia de inventar a alegria?

Com outonos de ouro a inventaram.
O vinho flui rubro ao longo das gerações
Como o rio do tempo e no árduo caminho
Prodiga-nos sua música, seu fogo e seus leões.

Na noite de júbilo ou na jornada adversa
Exalta a alegria ou mitiga o espanto
E o ditirambo novo que neste dia lhe canto

Outrora cantaram-no o árabe e o persa.
Vinho, ensina-me a arte de ver minha própria história
Como se esta já fosse cinza na memória.


Soneto del Vino


¿En qué reino, en qué siglo, bajo qué silenciosa
Conjunción de los astros, en qué secreto día
Que el mármol no há salvado, surgió la valerosa
Y singular ideia de inventar la alegria?

Com otoños de oro la inventaron.
El vino fluye rojo a lo largo de las generaciones
Como el río del tiempo y en el arduo camino
Nos prodiga su música, su fuego y sus leones.

En la noche del júbilo o en la jornada adversa
Exalta la alegria o mitiga el espanto
Y el ditirambo nuevo que este día le canto

Otrora lo cantaron el árabe y el persa.
Vino, enseñame el arte de ver mi propia historia
Como si ésta ya fuera ceniza en la memória.





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