domingo, 17 de maio de 2020

Jorge Luis Borges (Argentina: 1899 – 1986)



Ao vinho


No bronze de Homero teu nome resplandece
Escuro vinho que o peito do homem aquece.
Há muitos séculos passas de mão em mão
desde o ríton do grego ao corno do teutão.

Na aurora já te encontravas. Às gerações
deste-lhes pelo caminho o fogo e os leões.
Junto àquele outro rio de noites e dias
corre o teu, a que aclamam amigos e alegrias.

Vinho que como o Eufrates patriarcal e profundo
vais deslizando ao longo da história do mundo.
Em teu cristal vivo nossos olhos têm visto
vermelha metáfora do sangue de Cristo.

Nas arrebatadas estrofes de sufi
és a cimitarra, a rosa e o rubro rubi.
Que outros em teu Letes bebam um triste olvido;
eu busco em ti as festas do fervor compartido.

Sésamo com o qual antigas noites abro
e na dura treva, dádiva e candelabro.
Vinho do mútuo amor ou da rubra peleja,
em algum dia te chamarei. Que assim seja.


Al Vino


En el bronce de Homero resplandece tu nombre,
negro vino que alegras el corazón del hombre.
Siglos de siglos hace que vas de mano en mano
desde el ritón del griego al cuerno del germano.

En la aurora ya estabas. A las generaciones
les diste en el camino tu fuego y tus leones.
Junto a aquel otro río de noches y de días
corre el tuyo que aclaman amigos y alegrías,

Vino que como un Éufrates patriarcal y profundo
vas fluyendo a lo largo de la historia del mundo.
En tu cristal que vive nuestros ojos han visto
una roja metáfora de la sangre de Cristo.

En las arrebatadas estrofas de sufí
eres la cimitarra, la rosa y el rubí.
Que otros en tu Leteo beban un triste olvido;
yo busco en ti las fiestas del fervor compartido.

Sésamo con el cual antiguas noches abro
y en la dura tiniebla, dádiva y candelabro.
Vino del mutuo amor o la roja pelea,
alguna vez te llamaré. Que así sea.



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