quinta-feira, 5 de março de 2020

Nicanor Parra (Chile: 1914 – 2018)




Piadas para desorientar a (polícia) poesia

Fragmentos

Creio em um lugar + além
onde se cumprem todos os ideais
Amizade
Igualdade
Fraternidade
exceção feita à Liberdade
essa não se consegue em nenhuma parte
somos escravos x natureza

Ontem
de tombo em tombo
Hoje
de tumba em tumba

Ó capitão meu capitão
nada contra a monarquia absoluta
claro que eu
como bom chileno prefiro
a monarquia constitucional

Pezinhos de menino
azulados de frio
como os vêm e não os cobrem
Marx meu!

poesia poesia
como se no Chile não aconteceu nada!

Diga-me quais são para ti
as 10 palavras mais belas da língua castelhana
e te direi quem és

Aparecer apareceu
mas em uma lista de desaparecidos

Diga:
One Two Three
1 2 3
Deve dizer:
1 One 2 Two 3 Three

se vê que torturam alguém
faça-se de espia
e o matam com maior razão,
a mim crucificaram x delator...

os civis são gente uniformizada
também

Chile fértil província
fazenda com vista para o mar
administrada x seu próprio dono

Beije a bota que o pisoteia
não seja puritano homem x Deus

Primeiro o Chile foi um país de gramáticos
um país de historiadores
um país de poetas
agora é um pais de... reticências

"isso acontece comigo x crer em Deus"
(o Cristo de Elqui 
inspecionando no espelho
os hematomas que lhe deixaram os tiras)

As verdadeiras cores
da bandeira chilena
algo que está x ver-se ainda

Não matarás:
serás assassinado...

– Filho meu
responde-me esta pergunta
para que alguns poucos comam bem
é mister que muitos comam mal?
– Fale + alto Pai
do contrário não lhe dão atenção

Pássaros
não galinhas senhor Cura
liberdade absoluta de locomoção
claro que sem sair da cela

Recuemos majestade!
até as putas
sabem recuar a tempo


Chistes par(r)a desorientar a la (policía) poesía


Fragmentos

Creo en un + allá
donde se cumplen todos los ideales
Amistad
Igualdad
Fraternidad
excepción hecha de la Libertad
ésa no se consigue en ninguna parte
somos esclavos x naturaleza

Ayer
de tumbo en tumbo
Hoy
de tumba en tumba


Oh capitán mi capitán
nada contra la monarquía absoluta
claro que yo
como buen chillanejo prefiero
la monarquía constitucional.

Piececitos de niño
azulosos de frío
cómo os ven y no os cubren
¡Marx mío!

poesía poesía
como si en Chile no ocurriera nada!

Dime cuáles son para ti
las 10 palabras más bellas de la lengua castellana
y te diré quién eres

De aparecer apareció
pero en una lista de desaparecidos

Dice:
One Two Three
1 2 3
Debe decir:
1 One 2 Two 3 Free

si ve que torturan a alguien
hágase el de las chacras
y si lo matan con mayor razón,
a mí me crucificaron x sapo…

los civiles son gente uniformada
también

Chile fértil provincia
hacienda con vista al mar
administrada x su propio dueño

bese la bota que lo pisotea
no sea puritano hombre x Dios

Chile fue primero un país de gramáticos
un país de historiadores
un país de poetas
ahora es un país de… puntos suspensivos

«esto me pasa x creer en Dios»
(el Cristo de Elqui
inspeccionándose al espejo
los moretones que le dejaron los pacos)

los verdaderos colores
de la bandera chilena
algo que está x verse todavía


No matarás:
serás asesinado…

Hijo mío
respóndeme esta pregunta
para que algunos pocos coman bien
es menester que muchos coman mal?
Hable + fuerte Padre
de lo contrario no le dan pelota

Pájaros
no gallinas señor Cura
libertad absoluta de movimiento
claro que sin salirse de la jaula

¡Retirémonos majestad!
hasta las putas
saben retirarse a tiempo

quarta-feira, 4 de março de 2020

Miguel de Unamuno (Espanha: 1864 –1936)





Morrer Sonhando


"Em realidade, ele dizia a si mesmo, parece
que meu destino é morrer sonhando."
(Stendhal, O Vermelho e o Negro,LXX,
«A tranquilidade»)

Morrer sonhando, sim, mas se se sonha
morrer, a morte é sonho; uma ventana
para o vazio; não sonhar; nirvana;
ao tempo enfim a eternidade apanha.

Viver o presente sob o estandarte
do ontem que no amanhã se desfaz;
viver acorrentado ao que não apraz
é acaso viver? e é do viver a arte?

Sonhar a morte não é matar o sonho?
Viver o sonho não é matar a vida?
Por que a ele dedicar tanto labor?

Aprender o que em breve e ao fim se olvida
fixando o cenho pleno de rigor
– céu deserto – do perene Senhor?


Morir soñado


Au fait, se disait-il a lui-même, il parait que
mon destin est de mourir en rêvant.
(Stendhal, Le Rouge et le Noir, LXX,
«La tranquillité»)

Morir soñando, sí, mas si se sueña
morir, la muerte es sueño; una ventana
hacia el vacío; no soñar; nirvana;
del tiempo al fin la eternidad se adueña.

Vivir el día de hoy bajo la enseña
del ayer deshaciéndose en mañana;
vivir encadenado a la desgana
¿es acaso vivir? ¿y esto qué enseña?

¿Soñar la muerte no es matar el sueño?
¿Vivir el sueño no es matar la vida?
¿A qué poner en ello tanto empeño?:

¿aprender lo que al punto al fin se olvida
escudriñando el implacable ceño
– cielo desierto – del eterno Dueño?

terça-feira, 3 de março de 2020

Emily Dickinson (Estados Unidos: 1830 – 1886)


Poema J116 / F101


Eu possuía coisas a que chamava minhas –
E Deus, as que chamava suas –
Até que há poucos dias uma Demanda rival
Perturbou tais simpatias.
Da propriedade, o meu jardim,
Que semeei com cuidado,
Ele requer a primorosa parte,
E envia um Magistrado. [1]

A posição social das partes
Proíbe panfletagem,
Mas a Justiça é mais sublime
Que armas, ou linhagem.

Interporei uma "Apelação" –
A restituição, por lei exigirei –
Júpiter! Escolha seu defensor! –
O "Shaw" eu manterei. [2]


J116 / F101


I had some things that I called mine –
And God, that he called his –
Till, recently a rival Claim
Disturbed these amities.
The property, my garden,
Which having sown with care,
He claims the pretty acre,
And sends a Bailiff there.

The station of the parties
Forbids publicity,
But Justice is sublimer
Than arms, or pedigree.

I'll institute an "Action" –
I'll vindicate the law –
Jove! Choose your counsel –
I retain "Shaw"!


[1] Bailiff: oficial de justiça. Optei por'magistrado' pela sonoridade.
[2] Henry Shaw: jardineiro da família Dickinson



segunda-feira, 2 de março de 2020

Eugenio Montejo (Venezuela: 1938 – 2008)




Meu Amor


Em outro corpo vai o meu amor por esta rua,
sinto os seus passos sob a chuva,
caminhando, sonhando, como há tempos comigo...
Há ecos de minha voz em seus sussurros,
posso reconhecê-los.
Tem agora uma idade que era a minha,
uma lâmpada que se acende ao nos encontrarmos.
Meu amor que se embeleza com o mar das horas,
meu amor no terraço de um café
com um hibisco branco entre as mãos,
vestida à moda do novo milênio.
Meu amor que seguirá quando eu me for,
com outro riso e outros olhos,
como uma chama que saltou entre duas velas
E se deteve iluminando o azul da terra.


Mi Amor


En otro cuerpo va mi amor por esta calle,
siento sus pasos debajo de la lluvia,
caminando, soñando, como en mí hace ya tiempo...
Hay ecos de mi voz en sus susurros,
puedo reconocerlos.
Tiene ahora una edad que era la mía,
una lámpara que se enciende al encontrarnos.
Mi amor que se embellece con el mar de las horas,
mi amor en la terraza de un café
con un hibisco blanco entre las manos,
vestida a la usanza del nuevo milenio.
Mi amor que seguirá cuando me vaya,
con otra risa y otros ojos,
como una llama que dio un salto entre dos velas
Y se quedó alumbrando el azul de la tierra.


domingo, 1 de março de 2020

Eugenio Montejo (Venezuela: 1938 – 2008)




Duende


Esta mesma rua, mas antes,
a bordo dos meus vinte,
de noite a noite, com fumo e abajur,
escrevia poemas.
Ao redor a multidão adormecida
sonhava com dinheiro
e alguma qualquer outra estátua recosia
o azul de sua sombra.
Nunca soube que duende às minhas costas
– volátil e insistente –
fixos os olhos me seguia
frase por frase e letra a letra.
Não, não era aquele azul quase corpóreo
arrancado do mármore,
nem meu anjo da guarda sonado
e em árdua vigília,
nem tampouco um espectro hamletiano,
veraz até o mistério,
nem nenhuma presença repentina
daquela época.
Nada de nada nem de ninguém,
senão eu mesmo, eu mesmíssimo.
Mas não aquele de então: – este
que conta já sessenta,
– este era o duende...
O que aqui retorna procurando-me jovem,
nesta mesma rua, à meia-noite,
e me chama
e não é sonho.


Duende
  

Esta misma calle, pero antes,
a bordo de mis veinte,
de noche en noche, con tabaco y lámpara,
escribía poemas.
Alrededor la multitud dormida
soñaba con dinero
y alguna que otra estatua recosía
el azul de su sombra.
Nunca supe qué duende a mis espaldas
– volátil e insistente –
fijos los ojos me seguía
frase por frase y letra a letra.
No, no era aquel azul casi corpóreo
arrancado del mármol,
ni mi ángel de la guarda anochecido
y en ardua vela,
ni tampoco un espectro hamletiano,
veraz hasta el misterio,
ni ninguna presencia subitánea
de aquella época.
Nada de nada ni de nadie,
sino yo mismo, yo mismísimo.
Pero no aquél de entonces: – éste
que cifra ya sesenta,
– éste era el duende…
El que aquí vuelve buscándome de joven,
en esta misma calle, a medianoche,
y me llama
y no es sueño.



sábado, 29 de fevereiro de 2020

Raymond Queneau (França: 1903 – 1976)




Noite


Noite: duas sílabas
Muros: fechados como os hexágonos
Noite: duas sílabas
Outono: exaurido e lasso de esperar
pelas abelhas no coração assaz apaixonado...
Noite: serpente escavada de anelados raios do arco-íris
os deuses entrelaçados fazem dançar os arcos
das cartas esquecidas entre muito vagas mudas palavras
A noite produz fogo e mata o mundo
A noite produz fogo e transforma o mundo
A noite produz fogo e o mundo desmorona
Tudo parece esvair-se mesmo as montanhas ágeis
Noite


Nuit


Nuit: une syllabe
Murs: clos comme des hexagones
Nuit: une syllabe
Automne: essoufflées et lasses d’attendre
les abeilles au coeur trop tendre…
Nuit: serpent troué d’anneaux rayon de l’arc-en-ciel
les dieux entrecroisés font danser les arceaux
des lettres oubliées parmi moult mols muets mots
La nuit fait feu et tue le monde
La nuit fait feu et mue le monde
La nuit fait feu et le monde rue
Tout semble s’évanouir même les montagnes agiles
Nuit




sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Roque Dalton García (São Salvador: 1935 - 1975)




Poema de Amor


Os que alargaram o Canal do Panamá
(e foram classificados como silver roll e não como golden roll), [1]
os que repararam a frota do Pacífico
nas bases navais da Califórnia,
os que apodreceram nos cárceres da Guatemala,
México, Honduras, Nicarágua
como ladrões, como contrabandistas, como caloteiros,
como esfomeados
os sempre suspeitos de tudo
("permito-me remetê-lo ao que morre violentamente
por frequentar esquina suspeitosa
e pelo agravante de ser salvadorenho"),
as que lotam os bares e bordeis
de todos os portos e todas as capitais da zona [2]
(La gruta azul, El Calzoncito, Happyland),
os plantadores de milho em plena selva estrangeira,
os reis da página que verte sangue, [3]
os que nunca sabem de onde são,
os melhores artesãos do mundo,
os que foram costurados à bala ao cruzar a fronteira,
os que morrem de malária,
ou das picadas do escorpião ou da barba amarela [4]
no inferno das bananeras [5]
os que choraram embriagados pelo hino nacional
sob o ciclone do Pacífico ou sob a neve do norte,
os parasitas, os mendigos, os puxadores de fumo,
os guanacos filhos da grande puta, [6]
os que a duras penas puderam regressar,
os que tiveram um pouco mais de sorte,
os eternos ilegais,
os faz-tudo, vende-tudo e come-tudo,
os primeiros a desembainhar a faca,
os tristes mais tristes do mundo,
meus compatriotas,
meus irmãos.


Poema de Amor


Los que ampliaron el Canal de Panamá
(y fueron clasificados como "silver roll" y no como "golden roll"),
los que repararon la flota del Pacífico
en las bases de California,
los que se pudrieron en las cárceles de Guatemala,
México, Honduras, Nicaragua
por ladrones, por contrabandistas, por estafadores,
por hambrientos
los siempre sospechosos de todo
("me permito remitirle al interfecto
por esquinero sospechoso
y con el agravante de ser salvadoreño"),
las que llenaron los bares y los burdeles
de todos los puertos y las capitales de la zona
(La gruta azul, El Calzoncito, Happyland),
los sembradores de maíz en plena selva extranjera,
los reyes de la página roja,
los que nunca sabe nadie de dónde son,
los mejores artesanos del mundo,
los que fueron cosidos a balazos al cruzar la frontera,
los que murieron de paludismo
o de las picadas del escorpión o la barba amarilla
en el infierno de las bananeras,
los que lloraran borrachos por el himno nacional
bajo el ciclón del Pacífico o la nieve del norte,
los arrimados, los mendigos, los marihuaneros,
los guanacos hijos de la gran puta,
los que apenitas pudieron regresar,
los que tuvieron un poco más de suerte,
los eternos indocumentados,
los hacelotodo, los vendelotodo, los comelotodo,
los primeros en sacar el cuchillo,
los tristes más tristes del mundo,
mis compatriotas,
mis hermamos.


(Do livro Historias Prohibidas de Pulgarcito (1974) - Histórias Proibidas do Pequeno Polegar (do conto dos Irmãos Grimm). El Salvador foi batizado como Pulgarcito pela embaixadora e poeta chilena Gabriela Mistral, por ser um país muito pequeno.)

 Notas: 

[1] Rol prateado, rol dourado: Planilhas de trabalhadores adotadas por empresas norte-americanas da Zona do Canal do Panamá. Os brancos eram listados nas golden rolls; os antilhanos, nas silver rolls, caracterizadas pelas condições inferiores de emprego e salário.
[2] Zona do Canal
[3] Pagina roja (página vermelha): página de jornal em que são noticiados crimes sangrentos.
[4] Conhecida no Brasil como Jararaca do Norte (Bothrops atrox). Cobra venenosa comum na América Latina.
[5] Bananeras: empresas que plantavam e comercializavam bananas na América Latina. A mais conhecida foi a mal afamada United Fruit Company, multinacional estadunidense conhecida como La Frutera na América Latina. Por ter parte de suas terras nacionalizadas pelo governo, para distribuição aos camponeses gualtemalteco, La Frutera foi a motivadora da primeira invasão e derrubada, pelos Estados Unidos, em 1954, do governo do presidente eleito Jacobo Arbenz Gusmán, da Guatemala, devido à presença de alguns “comunistas” em seus ministérios.
[6] Guanaco (animal de carga, parecido com o lhama): gentílico depreciativo para salvadorenho.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Pablo Neruda (Chile: 1904 – 1973)




Não dizer nada


Agora contaremos até doze
e permaneceremos todos quietos.

Por uma vez sobre a terra
não falemos em nenhum idioma,
por um segundo detenhamo-nos,
não movamos tanto os braços.

Seria um minuto odorífero,
sem pressa, sem locomotivas,
todos estaríamos juntos
em uma quietude instantânea.

Os pescadores do mar frio
não causariam dano às baleias
e o trabalhador das salinas
olhariam suas mãos rotas.

Aqueles que planejam guerras verdes,
guerras de gás, guerras de fogo
vitórias sem sobreviventes,
vestiriam roupas puras
e andariam com seus irmãos
pela sombra, sem fazer coisa nenhuma.

Não se confunda o que quero
com a inércia definitiva:
A vida é apenas o que se faz,
não quero nada com a morte.

Se não pudermos ser unânimes
movendo tanto nossas vidas,
talvez não fazer nada por uma vez,
talvez um grande silêncio possa
interromper esta tristeza,
este não nos entendermos jamais
e ameaçar-nos com a morte,
talvez a terra nos ensine
quando tudo parece morto
e depois tudo estava vivo.

Agora contarei até doze
e tu te calas e me vou.


A Callarse


Ahora contaremos doce
y nos quedamos todos quietos.

Por una vez sobre la tierra
no hablemos en ningún idioma,
por un segundo detengámonos,
no movamos tanto los brazos.

Seria un minuto fragante,
sin prisa, sin locomotoras,
todos estaríamos juntos
en una inquietud instantánea.

Los pescadores del mar frío
no harían daño a las ballenas
y el trabajador de la sal
miraría sus manos rotas.

Los que preparan guerras verdes,
guerras de gas, guerras de fuego,
victorias sin sobrevivientes,
se pondrían un traje puro
y andarían con sus hermanos
por la sombra, sin hacer nada.

No se confunda lo que quiero
con la inacción definitiva:
la vida es solo lo que se hace,
no quiero nada con la muerte.

Si no pudimos ser unánimes
moviendo tanto nuestras vidas,
tal vez no hacer nada una vez,
tal vez un gran silencio pueda
interrumpir esta tristeza,
este no entendernos jamás
y amenazarnos con la muerte,
tal vez la tierra nos enseñe
cuando todo parece muerto
y luego todo estaba vivo.

Ahora contare hasta doce
y tu te callas y me voy.



quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Alberto Blanco (México: 1951 – )


Teoria quântica


O calor irradiado - mesmo se por um fogaréu campestre
ou pelas explosões atômicas no núcleo do sol –
não gera um fluxo contínuo:
mais se assemelha ao pulsar do coração
que ao lento rolar de um rio,
pois a radiação dá-se por saltos quânticos.

Talvez nosso conhecimento
avance da mesma forma.
Que no campo da física
tenham-se atribuído números inteiros
a cada um desses saltos,
e que nas distintas tradições
existam rituais de iniciação para cada passagem,
em nada altera o fenômeno fundamental.

Os círculos na água clara
dispersam-se a partir da pedra que cai
mas a profundidade do reservatório permanece inalterada.

O coração pulsa aos saltos
mas a circulação do sangue
é uma só e contínua realidade.

Em tempos passados pensou-se que os elétrons
eram como planetas girando ao redor de um núcleo
– um sol central – e que ao seu movimento e à sua velocidade
correspondia uma órbita, naturalmente.

Mesmo assim – para nossa grande surpresa –
a teoria quântica propôs que os elétrons
– apesar de terem movimento, velocidade, etc. –
não têm órbita! Como é isso possível?

Se observarmos ao microscópio eletrônico
um átomo de hidrogênio (o mais sensato de todos)
veremos que a própria luz do instrumento
faz com que seu único elétron absorva energia,
se excite, e saia de sua órbita...
e essa outra órbita nunca a conheceremos.

A teoria quântica nos propõe
– diferentemente da mecânica clássica –
que pode existir movimento
sem trajetória, sem percurso e sem órbita.

Pelo menos, sem um caminho conhecido,
e – o que é mais importante –
sem um caminho que se possa conhecer.

Não é isso a poesia?


Teoría Quántica


El calor irradiado – lo mismo por una fogata campestre
que por las explosiones atómicas al centro del sol –
no forma un flujo continuo:
se parece más al latir del corazón
que al pausado tránsito de un río,
porque la radiación procede por saltos cuánticos.

Tal vez nuestro conocimiento
proceda de la misma forma.
Que en el campo de la física
se haya asignado números enteros
a cada uno de estos saltos,
y que en las distintas tradiciones
existan rituales de iniciación para cada pasaje,
en nada altera el fenómeno fundamental.

Los círculos en el agua clara
se desplazan a partir de la piedra que cae
pero la profundidad del estanque permanece inalterada.

El corazón pulsa por saltos
pero la circulación de la sangre
es una sola y continua realidad.

En un tiempo se pensó que los electrones
eran como planetas girando alrededor de un núcleo
-un sol central- y que a su movimiento y a su velocidad
correspondía una órbita, naturalmente.

Sin embargo – para nuestra gran sorpresa –
la teoría cuántica propuso que los electrones
– a pesar de tener movimiento, velocidad, etc. –
¡no tienen órbita! ¿Cómo es esto posible?

Si observamos al microscopio electrónico
un átomo de hidrógeno (el más sencillo de todos
veremos que la luz misma del instrumento
provoca que su único electrón absorba energía,
se excite, y se salga de su órbita...
y esa otra órbita nunca la conoceremos.

La teoría cuántica nos propone
-a diferencia de la mecánica clásica-
que puede existir movimiento
sin trayectoria, sin recorrido y sin órbita.

Al menos, sin un camino conocido,
y -lo que es más importante-
sin un camino que se pueda conocer.

¿No es esto la poesía?



terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Vicente Huidobro (Chile: 1893 – 1948)





Triângulo harmônico


Thesa
A mui bela
Gentil princesa
É uma branca estrela
É uma estrela japonesa.
Thesa é a mais divina flor de Kioto
E quando passa triunfante em seu palanquim
Assemelha-se um tenro lírio, a uma pálida lótus
Arrancada em uma tarde de estio do imperial jardim.
Todos a adoram como a uma deusa, todos até o Mikado
No entanto ela atravessa por entre todos indiferente
De ninguém sabe-se que seu amor haja conquistado
E sempre está alegre, está sorridente.
É uma Ofélia japonesa
Que às flores amante
Louca e travessa
Triunfante
Beija.


Triángulo armónico


Thesa
La bella
Gentil princesa
Es una blanca estrella
Es una estrella japonesa.
Thesa es la más divina flor de Kioto
Y cuando pasa triunfante en su palanquín
Parece un tierno lirio, parece un pálido loto
Arrancado una tarde de estío del imperial jardín.
Todos la adoran como a una diosa, todos hasta el Mikado
Pero ella cruza por entre todos indiferente
De nadie se sabe que haya su amor logrado
Y siempre está risueña, está sonriente.
Es una Ofelia japonesa
Que a las flores amante
Loca y traviesa
Triunfante
Besa.


Jorge Seferis (Grécia: 1900 – 1971)

  Argonautas   E se a alma deve conhecer-se a si mesma ela deve voltar os olhos para outra alma: * o estrangeiro e inimigo, vim...