De “Vinte poemas de amor e uma canção desesperada”
Poema II / XXI
Em sua chama mortal a luz te envolve.
Absorta, pálida enferma, assim acomodada
contra as velhas hélices do crepúsculo
que ao teu redor dá voltas.
Muda, minha amiga,
só na solidão desta hora de mortes
e plena das vidas do fogo,
pura herdeira do dia destruído.
Do sol cai um cacho em teu vestido escuro.
Vindas da noite as grandes raízes
subitamente nascem de tua alma,
e ao exterior regressam as coisas em ti ocultas,
de modo a que um povo pálido e azul
de ti recém nascido se alimente.
Oh grandiosa e fecunda e magnética escrava
do círculo que em negro e dourado surge:
altiva, cuida e alcança uma criação tão viva
que sucumbem suas flores, e plena é de tristeza.
Poema II / XXI
En su llama mortal la luz te envuelve.
Absorta, pálida doliente, así situada
contra las viejas hélices del crepúsculo
que en torno a ti da vueltas.
Muda, mi amiga,
sola en lo solitario de esta hora de muertes
y llena de las vidas del fuego,
pura heredera del día destruido.
Del sol cae un racimo en tu vestido oscuro.
De la noche las grandes raíces
crecen de súbito desde tu alma,
y a lo exterior regresan las cosas en ti ocultas,
de modo que un pueblo pálido y azul
de ti recién nacido se alimenta.
Oh grandiosa y fecunda y magnética esclava
del círculo que en negro y dorado sucede:
erguida, trata y logra una creación tan viva
que sucumben sus flores, y llena es de tristeza.
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