segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Pablo Neruda (Chile: 1904 – 1973)

De “Vinte poemas de amor e uma canção desesperada”

 

Poema II / XXI

 

Em sua chama mortal a luz te envolve.

Absorta, pálida enferma, assim acomodada

contra as velhas hélices do crepúsculo

que ao teu redor dá voltas.

 

Muda, minha amiga,

só na solidão desta hora de mortes

e plena das vidas do fogo,

pura herdeira do dia destruído.

 

Do sol cai um cacho em teu vestido escuro.

Vindas da noite as grandes raízes

subitamente nascem de tua alma,

e ao exterior regressam as coisas em ti ocultas,

de modo a que um povo pálido e azul

de ti recém nascido se alimente.

 

Oh grandiosa e fecunda e magnética escrava

do círculo que em negro e dourado surge:

altiva, cuida e alcança uma criação tão viva

que sucumbem suas flores, e plena é de tristeza.

 

Poema II / XXI

 

En su llama mortal la luz te envuelve.

Absorta, pálida doliente, así situada

contra las viejas hélices del crepúsculo

que en torno a ti da vueltas.

 

Muda, mi amiga,

sola en lo solitario de esta hora de muertes

y llena de las vidas del fuego,

pura heredera del día destruido.

 

Del sol cae un racimo en tu vestido oscuro.

De la noche las grandes raíces

crecen de súbito desde tu alma,

y a lo exterior regresan las cosas en ti ocultas,

de modo que un pueblo pálido y azul

de ti recién nacido se alimenta.

 

Oh grandiosa y fecunda y magnética esclava

del círculo que en negro y dorado sucede:

erguida, trata y logra una creación tan viva

que sucumben sus flores, y llena es de tristeza.

 

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