domingo, 5 de julho de 2020

Jorge Luis Borges (Argentina: 1899 – 1986)




O Outro


No primeiro de seus muitos milhares
De hexâmetros de bronze invoca o grego
À difícil musa ou a um arcano fogo
Para cantar a cólera de Aquiles.

Sabia que um outro – um Deus – é o que fere
De brusca luz nossa labuta;
Séculos depois diria a Escritura
Que o espírito assopra onde bem quiser.

A exata ferramenta a seu escolhido
Dá o impiedoso deus inominável:
A Milton o isolamento da sombra,

O desterro a Cervantes e o olvido.
Seu é tudo o que perdura na memória
Do tempo secular. E nossa, a escória.


El Otro


En el primero de sus largos miles
De hexámetros de bronce invoca el griego
A la ardua musa o a un arcano fuego
Para cantar la cólera de Aquiles.

Sabía que otro – un Dios – es el que hiere
De brusca luz nuestra labor oscura;
Siglos después diría la Escritura
Que el Espíritu sopla donde quiere.

La cabal herramienta a su elegido
Da el despiadado dios que no se nombra:
A Milton las paredes de la sombra,

El destierro a Cervantes y el olvido.
Suyo es lo que perdura en la memoria
Del tiempo secular. Nuestra la escoria.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Jorge Seferis (Grécia: 1900 – 1971)

  Argonautas   E se a alma deve conhecer-se a si mesma ela deve voltar os olhos para outra alma: * o estrangeiro e inimigo, vim...