Luz do sol e sombra
Mas a Itália produziu algo maravilhoso nela.
Deu-lhe luz, e – o que realizou de mais
precioso – deu-lhe sombra...
– E.
M. Foster, no livro “Um quarto com vista”.
1.
Observe qualquer garota tranquila do norte
renunciando à sua limpa transparência
nesta luz estrênua;
límpida até agora – sua vantagem de ser
definida por sua saia –, está de pé na luminosa piazza
buscando escapar do sol, algo temerosa
das naves de pedra e dos transeptos,
das arqueadas fontes algo temerosa
de sondar seu próprio e rico poço, sentir sua mente
cair, cair no inimaginável fundo
de sangue e ritmo,
onde começa a vida.
2.
Que pena, disse Miss Bartlett, ter Botticelli
arruinado uma cena adorável com um nu lamentável;
enquanto sua jovem prima, desmaiando com estranha
alegria,
caía em uma moita de violetas
e foi beijada por um homem.
Pena Miss Bartlett. Mas Lucy,
apalpando sua parte baixa, ainda que meramente a
sentindo,
como uma mulher enjoada com o cheiro de peixe
e ainda desinformada da causa,
culpou em demasia a Beethoven e ao ataque
das agitadas violetas.
3.
Os anjos e santos de Leonardo
mais se assemelham a mulheres; lembram
serafins com cabelos de garotas, e a suave curva
do braço do Batista, sua mão delicadamente carnal
apontando seus lábios onde misteriosos dançarinos
aglomeram-se nos cantos. Falamos do sorriso,
mas há mais: é a luz e a sombra
equilibrada para o amor, e a mulher afagando sua doninha
sabe tudo sobre o toque do sol
em cada único ponto de seu alongado casaco.
4.
O que começa no escuro virá com a luz do sol,
da infância sob o umbral do conhecimento,
da massificada inconsciência, até a ardente órbita
de afuroante sol, aclame
a existência do eu. Tome qualquer ato de criação,
na mente acrobata do sensual Leonardo,
no leito matrimonial – você pode dizer
onde ela começa? As abelhas
ausentam-se no verão, ainda assim dançam
com maior precisão que a dos barômetros
mostrando o movimento da luz do sol
rumo ao reluzente mel.
Sunlight and Shadow
But Italy worked some marvel on her. It gave her light,
and—
which he held more precious – it gave her shadow…
– E. M. Forster, A ROOM WITH A VIEW
1.
Watch any cool Northern girl
renounce her clean transparency
in this strenuous light;
shadowless until now, her edge of being
defined by her skirt, she stands in the noon piazza
seeking asylum from sun, half-afraid
of the stone naves and transepts,
the vaulted fountains
where darkness broods; half-afraid
to fathom her own rich well, feel her mind
fall, fall to the unguessed bottom
of blood and rhythm,
where life begins.
2.
What a pity. said Miss Bartlett, that Botticelli
spoiled a lovely scene by that unfortunate nude;
while her young cousin, swooning with a strange joy,
fell into a thicket of violets
and was kissed by a man.
Pity Miss Bartlett. But Lucy,
groping her depth, as yet merely sensing it,
like a woman sick at the smell of fish
and ignorant still of the cause,
blamed too much Beethoven and the onslaught
of heaving violets.
3.
Leonardo’s
angels and saints look like women; remember
the seraph with hair like a girl’s, and the Baptist’s
softly curved arm, his delicately fleshed hand
pointing toward his lips where mysterious dancers
cluster in corners. We speak of the smile,
but it is more: it is light and shadow
balanced to love, and the woman fondling her weasel
knows all about the feel of the sun
on each single point of his stretching fur.
4.
What begins in the dark shall come into sunlight,
from infancy under the threshold of knowledge,
from massed unawareness, into the passionate orbit
of ferreting sun, acclaim
the existence of self. Take any act of creation,
in the tumbling mind of sensuous Leonardo,
in the marriage-bed—can you say
where it starts? The bees
are absent all winter, yet dance
more accurately than the barometer shows
the movement of summer’s light
toward glistening honey.
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