domingo, 12 de julho de 2020

Octavio Paz (México: 1914 – 1998)




Esquecimento


Cerra os olhos e às escuras perde-te
sob a folhagem rubra de tuas pálpebras.

Afunda-te nessas espirais
da sonoridade que zumbe e cai
e soa ali, remota,
rumo ao nicho do tímpano,
como uma catarata ensurdecida.

Afunda teu ser às escuras,
encharca tua pele,
e mais, em tuas entranhas;
que te deslumbre e cegue
o osso, lívida centelha,
e entre simas e golfos de treva
abra seu azul penacho o fogo fátuo.

Nessa sombra líquida do sonho
molha tua nudez;
abandona tua forma, espuma
que não sabe a quem deixou na margem;
perde-te em ti, infinita,
em teu infinito ser,
ser que se perde em outro mar;
esquece a ti e esquece-me.

Nesse esquecimento sem idade nem fundo,
lábios, beijos, amor, tudo renasce:
as estrelas são filhas da noite.


Olvido


Cierra los ojos y a oscuras piérdete
bajo el follaje rojo de tus párpados.

Húndete en esas espirales
del sonido que zumba y cae
y suena allí, remoto,
hacia el sitio del tímpano,
como una catarata ensordecida.

Hunde tu ser a oscuras,
anégate la piel,
y más, en tus entrañas;
que te deslumbre y ciegue
el hueso, lívida centella,
y entre simas y golfos de tiniebla
abra su azul penacho al fuego fatuo.

En esa sombra líquida del sueño
moja tu desnudez;
abandona tu forma, espuma
que no sabe quien dejó en la orilla;
piérdete en ti, infinita,
en tu infinito ser,
ser que se pierde en otro mar:
olvídate y olvídame.

En ese olvido sin edad ni fondo,
labios, besos, amor, todo renace:
las estrellas son hijas de la noche.





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