domingo, 26 de janeiro de 2020

Orfila Bardesio (Uruguai: 1922 – 2009)




O náufrago



Cai do voo à pedra
como o silêncio sobre o grito,
como o fogo no frio.
Vai pelas mãos ao céu,
aos caminhos, pela voz.
ao trigo, por solidões.
Não deixa de ser outro,
de ser ninguém ante nenhum.
Sua família, formada pelas mortes
do universo desde o princípio
até o fim, vai chorando por ele
folhas de tinhorões, à terra.
Leva seus passos até os muros,
ciprestes, aos risos,
esquecimento, aos relógios,
como a chuva, às estiagens,
leva a luz de seus diamantes
a rios vorazes.
Não cerra os olhos quando dorme,
e os sonhos caem sobre ele, à vida.
Para chorar,
deixa a porta aberta.
Não pede auxílio.
Nem nome. Nem salvação.

Nem nada.


El Náufrago


Cae del vuelo a la piedra
como el silencio sobre el grito,
como el fuego en el frío.
Va por las manos al cielo,
a los caminos, por la voz.
al trigo, por soledades.
No deja de ser otro,
de ser nadie ante ninguno.
Su familia, formada por las muertes
del universo desde el principio
hasta el fin, le va llorando
lianas del cuello, a la tierra.
Lleva sus pasos a los muros,
cipreses, a las risas,
olvido, a los relojes,
como la lluvia, a las sequías,
lleva la luz de sus diamantes
a ríos voraces.
No cierra los ojos cuando duerme,
y se le caen los sueños, a la vida.
Para llorar,
deja la puerta abierta.
No pide auxilio.
Ni nombre. Ni salvación.
Ni nada.


(Colaboração na tradução de Isaias Edson Sidney)


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