segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Matilde Kusminsky-Richter (Argentina: 1918 – 1998)




E se a falha fosse
a desesperada esperança de dar sentido ao caos?
E se fincar as unhas nas almas alheias
para fazer pontes de ar
confirmasse que é inútil a procura?
Sempre o tu se transforma
sempre termina em outro eu,
único, solitário.

Não me basta saber que algo nasce
a cada vez que alguém morre;
não sou nada nem ninguém,
nem eu, nem tu, nem o outro,
e é irrisório
este insaciável afã por seguir sendo.
Por instantes suspeito que há uma chave:
sinto um rumor de coisas já passadas
e de outras por vir,
mas não sei por onde continuará
este deambular de sombras.

Chegará o dia e terás que aceitá-lo.
E ainda que o coração se encolha no peito,
como um pássaro enfermo,
terás que aceitá-lo;
Apenas falta saber qual dos dois
ficará sem ouvir a respiração do outro,
órfão da linguagem cifrada
do outro olhar.
Qual dos dois
ficará no vazio das sombras,
sem a latente proteção de seu corpo.
Qual sofrerá a distante presença
preenchendo o vazio dos quartos.




Y si la falla fuera
la desesperada esperanza de dar sentido al caos?
¿Y si hincar las uñas en las almas ajenas
para hacer puentes de aire
confirmara que es inútil la búsqueda?
Siempre el tú se transforma,
siempre termina otro yo,
único, solitario.

No me basta saber que algo nace
cada vez que uno muere;
no soy nada ni nadie,
ni yo, ni tú, ni el otro,
y es irrisorio
este insaciable afán por seguir siendo.
Por momentos sospecho que hay una clave:
siento un rumor de cosas ya pasadas
y de otras por venir,
pero no sé dónde continuará
este ambular de sombras.

Llegará el día y habrá que aceptarlo.
Y aunque el corazón se acurruque en el pecho,
como un pájaro enfermo,
habrá que aceptarlo.
Sólo falta saber quién de los dos
quedará sin oír la respiración del otro,
huérfano del lenguaje cifrado
de la otra mirada.
Quién de los dos
quedará en el vacío de las sombras,
sin el latente custodio de su cuerpo.
Quién sufrirá la alejada presencia
llenando el vacío de los cuartos.

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