terça-feira, 14 de setembro de 2021

Jorge Luis Borges (Argentina: 1899 – 1986)

Do livro Elogio da sombra – 09 / 31

 



O labirinto



Zeus não podia desatar as redes

de pedra que me cercam. Esqueci-me

dos homens que antes fui, sigo o odiado

caminho de monótonas paredes

que é meu destino. Retas galerias

que se encurvam em círculos secretos

ao término dos anos. Parapeitos

aos quais rachou a cobiça dos meus dias.

Decifrei no terreno esfarelado

rastros que temo. No ar foi-me trazido

nas encurvadas tardes um bramido

e o ecoar de um bramido desolado.

Sei que na sombra há Outro, cuja sorte

é fatigar as amplas soledades

que tecem e destecem este Hades,

e ansiar meu sangue e engolir minha morte.

Buscamo-nos os dois. Quem dera fosse

este o último dia desta espera.



El Laberinto


Zeus no podría desatar las redes
de piedra que me cercan. He olvidado
los hombres que antes fui; sigo el odiado
camino de monótonas paredes

que es mi destino. Rectas galerías
que se curvan en círculos secretos
al cabo de los años. Parapetos
que ha agrietado la usura de los días.

En el pálido polvo he descifrado
rastros que temo. El aire me ha traído
en las cóncavas tardes un bramido
o el eco de un bramido desolado.

Sé que en la sombra hay Otro, cuya suerte
es fatigar las largas soledades
que tejen y destejen este Hades
y ansiar mi sangre y devorar mi muerte.

Nos buscamos los dos. Ojalá fuera
éste el último día de la espera.

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