Do livro Elogio da sombra – 04 / 31
New
England, 1967
Alteraram-se as formas de meu sonho;
agora são casas laterais vermelhas [1]
e o delicado bronze da folhagem
e o casto inverno e o piedoso lenho.[2]
Como no dia sétimo, esta terra
é boa. Nos crepúsculos persiste
o que quase não é, audaz e triste,
um antigo rumor de Bíblia e guerra.
Logo (nos dizem) chegará a neve
e a América me espera em cada esquina,
mas sinto que na tarde que declina
o hoje tão lento e o ontem tão breve.
Buenos Aires, eu sigo caminhando
por tuas ruas, sem por quê nem quando.
Cambridge,
1967
New England, 1967 (versão sem métrica)
Alteraram-se as formas de meu sonho;
agora são casas laterais vermelhas [1]
e o delicado bronze das folhas
e o casto inverno e o piedoso lenho. [2]
Como no dia sétimo, a terra
é boa. Nos crepúsculos persiste
algo que quase não existe, ousado e triste,
um antigo rumor de Bíblia e guerra.
Logo (nos dizem) chegará a neve
e a América me espera em cada esquina,
mas sinto na tarde que declina
o hoje tão lento e o ontem tão breve.
Buenos Aires, eu sigo caminhando
por tuas esquinas, sem por quê nem quando.
Cambridge, 1967
New England, 1967
Han cambiado las formas de mi sueño;
ahora son laterales casas rojas
y el delicado bronce de las hojas
y el casto invierno y el piadoso leño.
Como en el día séptimo, la tierra
es buena. En los crepúsculos persiste
algo que casi no es, osado y triste,
un antiguo rumor de Biblia y guerra.
Pronto (nos dicen) llegará la nieve
y América me espera en cada esquina,
pero siento en la tarde que declina
el hoy tan lento y el ayer tan breve.
Buenos Aires, yo sigo caminando
por tus esquinas, sin por qué ni cuándo.
Cambridge,
1967
[1] Casa lateral: casa com passagem(ns) na(s)
lateral(ais) e área livre atrás.
[2] Com a palavra ‘leño’ – aqui associada ao inverno – o
poeta pode estar se referindo à ‘lenha na lareira’ ou à locução verbal
coloquial espanhola ‘dormir como un leño’ – dormir profundamente.
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