quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Alejandra Pizarnik (Argentina: 1936 – 1972)

 

À espera da Escuridão

 

Esse instante a que não se esquece

Tão vazio concedido pelas sombras

Tão vazio rejeitado pelos relógios

Esse pobre instante adotado por minha ternura

Despido despido de sangue de asas

Sem olhos para recordar angústias do passado

Sem lábios para colher o sumo das violências

perdidas no canto dos gelados campanários.

 

Protege-o menina cega de alma

Põe-lhe teus cabelos cristalizados pelo fogo

Abraça-o pequena estátua de terror.

Mostra-lhe o mundo convulsionado a teus pés

A teus pés onde morrem andorinhas

Tiritantes de pavor frente ao futuro

Diz-lhe que os suspiros do mar

Umedecem as únicas palavras

Pelas quais vale a pena viver.

 

Porém esse instante suarento de nada

Aninhado na gruta do destino

Sem mãos para dizer nunca

Sem mãos para presentear borboletas

Aos meninos mortos

  

A la espera de la oscuridad

 

Ese instante que no se olvida

Tan vacío devuelto por las sombras

Tan vacío rechazado por los relojes

Ese pobre instante adoptado por mi ternura

Desnudo desnudo de sangre de alas

Sin ojos para recordar angustias de antaño

Sin labios para recoger el zumo de las violencias

perdidas en el canto de los helados campanarios.

 

Ampáralo niña ciega de alma

Ponle tus cabellos escarchados por el fuego

Abrázalo pequeña estatua de terror.

Señálale el mundo convulsionado a tus pies

A tus pies donde mueren las golondrinas

Tiritantes de pavor frente al futuro

Dile que los suspiros del mar

Humedecen las únicas palabras

Por las que vale vivir.

 

Pero ese instante sudoroso de nada

Acurrucado en la cueva del destino

Sin manos para decir nunca

Sin manos para regalar mariposas

A los niños muertos



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