sexta-feira, 10 de abril de 2020

Luis Cernuda (Espanha: 1902 – 1963)




Onde reine o esquecimento


Onde reine o esquecimento,
Nos vastos jardins sem aurora;
Onde eu somente seja
Memória de uma pedra sepultada entre urtigas
Sobre a qual o vento foge de suas insônias.

Onde meu nome deixe
O corpo que nomeia em braços dos séculos,
Onde o desejo não exista.

Nessa grande região em que o amor, anjo terrível,
Não esconda como aço
Em meu peito sua asa,
Sorrindo cheio de graça sublime enquanto cresce o tormento.

Ali onde termine este afã que exige um dono à imagem sua,
Submetendo a outra vida sua vida,
Sem mais horizonte que outros olhos frente a frente.

Onde penares e fortunas não sejam mais que nomes,
Céu e terra nativos em torno de uma lembrança;
Onde ao fim fique livre sem sabê-lo eu mesmo.
Dissolvido em bruma, ausência,
Ausência leve como carne de criança.

Lá, lá longe,
Onde reine o esquecimento.


Donde habite el olvido


Donde habite el olvido,
En los vastos jardines sin aurora;
Donde yo sólo sea
Memoria de una piedra sepultada entre ortigas
Sobre la cual el viento escapa a sus insomnios.

Donde mi nombre deje
Al cuerpo que designa en brazos de los siglos,
Donde el deseo no exista.

En esa gran región donde el amor, ángel terrible,
No esconda como acero
En mi pecho su ala,
Sonriendo lleno de gracia aérea mientras crece el tormento.

Allí donde termine este afán que exige un dueño a imagen suya,
Sometiendo a otra vida su vida,
Sin más horizonte que otros ojos frente a frente.

Donde penas y dichas no sean más que nombres,
Cielo y tierra nativos en torno de un recuerdo;
Donde al fin quede libre sin saberlo yo mismo,
Disuelto en niebla, ausencia,
Ausencia leve como carne de niño.

Allá, allá lejos;
Donde habite el olvido.



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